sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Paulistando em São Paulo

Agora, mais do que nunca, estou fora do meu habitat, dessa forma experiências novas surgiram, então, então vou relatar uma bem interessante. Era uma terça por volta das 17:30, eu tinha alguns documentos para entregar lá no terminal da Barra Funda, um pequeno favor que fiz para minha irmã. Como todo bom paulistano tomei o metrô, entrei na estação Consolação, o fluxo de pessoas era alto e rápido, todos corriam apressados, entrei no vagão, já fiquei preocupado, pois a linha verde raramente é cheia, mas estava com muita gente, sim cheia, porém ainda de certa forma havia uma boa circulação, e espaços vazios. Fui até a estação Paraíso, a onde deveria trocar de linha, pois meu destino exigia outra direção, agora já pensando que gastaria o dobro do tempo, porque não consegui nem pegar o primeiro trem que passou na nova linha, de tanta gente que tinha. A aglomeração nas portas era infernal, além disso quando as portas abriam uma massa de gente te empurrava brutalmente para dentro, e olha que eu não sou um cara pequeno!, mesmo nesse tumulto não havia como entrar, simplesmente não cabia mais ninguém. Depois de muito esforço, empurrões de todos os lados, consegui embarcar, a situação era péssima e só tendia a piorar, o pior é que cada estação que parava mais gente se socava pra dentro do vagão, como diz o meu professor de Direito Romano, "sabe aquele cheiro de humanidade", aquele cheiro de povo mesmo, daquele povo que já suou a camisa o dia inteiro, tava ótimo..., mas a coisa ainda tava boa, quando chegasse na estação da Sé, no centro de São Paulo, dai sim estaria num tremendo problema; Cheguei a Sé..., novamente tive de trocar de linha para alcançar meu objetivo, (Barra Funda), mas meu deus, uma multidão corria, chegavam no trem e se enfiavam numa brutalidade surpreendente, eu fui bem devagar porque já sabia que naquele trem não ia conseguir entrar mesmo, tinha de esperar o próximo da linha, a hora que o trem chegou já não cabia mas ninguém, já veio entupido aquilo extrapolava qual quer limite de espaço de um ser, mas como eu já estava na multidão para entrar tive duas opções, ou eu entrava, ou eu também entrava, fui obrigado a optar pela primeira, um duto de gente me empurrou para dentro, ou seja para um espaço que já não existia, mas entrei, como uma furadeira entrando numa chapa de aço, espremido. Nesse momento de aperto, formulei várias teorias, por exemplo: O suor é importante nessas horas, porque ele serve como um lubrificante na movimentação das pessoas dentro do vagão. Dentro do vagão é como num lego, as pessoas tem de achar o encaixe perfeito para que as peças todas consigam sobreviver ali. Agora sei porque São Paulo tem tanto gay, porque em algumas horas você é acometido por um leve estupro, é deve ter cara que acaba gostando né!, deve ter viado que anda de metrô as 18:00 por puro prazer, então vai um conselho se você entrar no metrô nesse horário, procure um canto e encoste, porque sentar é impossível. Voltando a história, bom finalmente cheguei a Barra Funda, entreguei os documentos, muito amassados, e pensei que voltar ia ser fácil, afinal ninguém mas quer ir pro centro naquela hora. Grande engano..., a hora em que voltei pra estação tomei um susto, deveria ter umas 50 pessoas em cada fila, ou seja, pra cada porta do trem tinha uma duna de gente, entrei na galera, estava lá no meio, quando escuto uma voz bem irritante reclamando da demora, olhei..., "ainda me pergunto porque", era uma gorda, ou melhor, se parecia mais pra um leitão enrugado, e detalhe, aquilo tinha barba, talvez até mais do que eu!. Bom mas isso são mágoas passadas, a situação era ruim, mas de algum jeito eu tinha de voltar pra casa. O tempo passava, como os trens que passavam na minha frente e eu não conseguia entrar, eu contei e somente no 6º trem consegui. O bacana é que nem precisava se segurar, porque tinha tanta gente que uma escorava a outra, quando o trem freava era como se todos fossem um bloco sólido, nem se mexiam. Para tudo havia uma disputa, pelo bando, pelo espaço, e até pelo ar, pelo oxigênio, que ali parecia escasso. Fui indo, quando trem parava nas estações as pessoas do lado de fora ficavam olhando, procurando um mínimo lugar para se enfiarem, um ou outro se arriscava ainda, o que fazia que todo mundo daquela região se movesse, tentando achar uma posição um pouco melhor. Tinha uma velha até que perto de mim que no seu braço tinha umas manchas de pele meio descamadas, acho que ela tinha Hanseníase. Acho sinceramente que todos deveriam passar por essa experiência, não digo isso querendo espalhar sofrimento, mas com certeza, se conseguirem cumprir o trajeto, sairão como heróis. Por fim cheguei a última estação, a qual desembarcaria, já pensando em sair logo, respirar um ar puro, como o ar das manhãs na fazenda, descontaminado, uma brisa doce. Doce ilusão, subi a escada rolante, aviste a rua, os carros, parei, respirei profundamente, só dai me lembrei... estava em São Paulo.