quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Um Evento Caloroso

Já passava das 23h20min, o silêncio da ruralidade era pleno e tranquilo. O céu límpido almejava a inovações terrestres. Estava eu a perambular pela casa, quando ruídos e faróis atravessaram a escuridão da noite, corri meio aos tropeços para acompanhar tal fenômeno tão estupendo e um tanto raro. Quando cheguei o fogo acabara de nascer, pequenos amontoados flamejavam uma chama ou outra, mas em pouco tempo aquilo tomara corpo e crescera, labaredas de quatro, cinco e seis metros deixavam o jardim de casa como se fosse pouco mais de 6 horas da tarde . Lá no fundo, ilustrada como num quadro, a Lua iluminava para que o fogo não se perdesse dentre tantos caminhos ali trilháveis. A poucos passos deparava-me com uma beleza diferenciada, pouco vista, mas com tamanha exuberância, com tamanha magnitude que até deixei me cair em delírio em quanto admirava o fogo na cana de casa. As chamas adentravam abruptamente naquela massa sólida e vegetal, como uma faca que adentra na carne ou como uma rajada de vento que corta o oceano, com certeza, o evento mais bonito do ano. O calor era intenso, por alguns segundos tive a sensação de estar numa espécie de gril, onde minha única função era dourar feito um porco no rolete. As chamas projetavam as grandiosas sombras das árvores, meio aos fortes ventos, se debatiam disputando um lugar naquele espetáculo mágico. Já o som emitido pelo aquele show, um tanto peculiar, era como se os rojões dos últimos 50 anos novos tivessem explodindo ali, em poucos segundos. Sim, caro leitor, entretanto já era tarde, me despedi daquela exuberante obra e busquei o aconchego de minha cama. Aquele fogo aquecera minhas idéias, que naquela hora saltitavam em minha cabeça como numa dança tribal entre pulgas e percevejos. No dia seguinte, aquela área outrora desabitada, agora continha as máquinas que cortavam, carregavam e levavam embora pra sempre: a essência de um espetáculo, a riqueza de um povo e o açúcar da vida.

Um comentário:

  1. Que texto lindo,Marcelo! Puro impressionismo, mas também regionalismo e prosaísmo, poxa quantos -ismos~ Hoje minha casa está cheia dessa fuligem preta, chuva negra, assunto pra mais um poema, não? haha
    Continua sempre assim!~

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