quinta-feira, 28 de abril de 2011

Abrindo as Asas

Como o ipê que desafia o inverno, o passarinho, que acabou de sair do ovo, tem de deixar o ninho pra bater as asas, conhecer novos horizontes, passar por apuros, experimentar os dissabores da vida e quem sabe vencer no futuro. Bom, cá estou, no Formigueiro Humano, no centro da civilização "brasilesca", batendo as asas, errando os vôos, pousando. Cá estando eu, já em muitas vezes me encontro pra ninguém, desinteressado de tudo, em um momento só meu, sozinho, carente. Mas lembrando a teoria do rio, a qual um grande sábio perguntou para seu discípulo como a água do rio chegava ao oceano, como ela enfrentava gigantes montanhas, os grandes vales, os diversos obstáculos. O grande sábio respondeu com uma resposta muito simples. "Ela simplesmente desvia, contorna, fazendo assim com que consiga seguir em frente e alcançar o seu destino". E na vida as coisas também são assim. Então nesse ínterim venho desenvolvendo algumas atividades que me distraem, que me fazem contornar as coisas, não que eu esteja infeliz comigo aqui, mas muitas mudanças acarretam dificuldades superáveis. Por exemplo: sempre que vejo um homem de terno, observo se a gravata está na altura certa, é o que mais reparo, e como erram aqui, é muito raro ver um que esteja de acordo com o certo. Que o seu humilde escritor saiba, a gravata deve terminar exatamente a onde termina o cinto. O que mais vejo é gravata muito curta, as vezes termina no umbigo. Outra coisa que tem me irritado são as pombas daqui. A pressa se concentra só nas pessoas na rua, é impressionante, as pombas são uma folgadas, é isso mesmo, é assim que as defino, tem umas que quase tenho de chutá-las pra saírem da frente, qualquer dia desses ainda pego uma de jeito, elas simplesmente ficam comendo, nem voar essa gordas voam. Fora isso também vejo muito por aqui a pessoa se arrumando no elevador, aqui o uso de elevador é muito maior, e o interessante é que algumas pessoas usam o espelho pra se arrumarem, mas não é uma arrumadinha, tem mulheres que abrem a bolsa, tiram o pente, se penteiam, refazem a maquiagem, e você ali do lado só olhando a figura, e o que muitas não reparam é que sempre tem uma câmera no elevador, penso que o cidadão que monitora isso deve se divertir muito. Acreditem, já cheguei ao cúmulo de ver gente espremendo espinha.. foi o fim da picada. Entretanto, aqui também é um lugar de muita cultura, teatro, estádio de futebol, cinema, nunca se está sozinho, principalmente quando nos deparamos com uma paixão, de longe ou de perto. E são nessas horas que saio da casca, abro as asas e voo para bem... bem longe...

Um comentário:

  1. Quanta inspiração! Sua mudança de ares está sendo bastante frutífera em termos de textos, né?
    Quanto às gravatas e elevadores, realmente, é vergonhoso... Mas coitadas das pombas, elas são brasileiras como a gente, que mal faz terem o seu próprio ritmo, ainda mais em uma cidade de ritmo tão frenético como a querida pauliceia desvairada?
    De qualquer forma, sempre resta-nos a poesia, sim?

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