terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Vou me embora para Santa Clara

Vou-me embora para Santa Clara
Pois lá a solidão é oportuna
E a paz adentra na alma

Vou-me embora para Santa Clara
Pois estou farto dos vícios modernos
Portanto prefiro os tempos idos

Vou-me embora para Santa Clara
Pois já é desprezível o batuque do gongo
E aqui é fatal o deslustre

Vou-me embora para Santa Clara
Pois aqui estou embriagado de tudo
E lá tudo é brio e bom

Vou-me embora para Santa Clara
Pois cansei dos inelutáveis
E dos ineptos presentes aqui

Vou-me embora para Santa Clara
Pois lá pra mim é Júpiter
Tudo é exótico é belo

Vou-me embora para Santa Clara
Pois aqui a ironia acabou
E minha alma só vê descaso

Vou-me embora para Santa Clara
Pois minha ira se esgotou
E aqui as pessoas só sabem gorar

Vou-me embora para Santa Clara
Pois já a gôndola me aguarda
E em fim serei apenas eu, e o gondoleiro

Vou-me embora para Santa Clara
Pois a graça aqui se apagou
E dou graças a isso.

Vou-me embora para Santa Clara
Pois aqui não há igualha
E só ignorância

Vou-me embora para Santa Clara
Pois lá os passarinhos assobiam belamente
E aqui só temos corvos e urubus

Vou-me embora para Santa Clara
Pois aqui se vive uma ilusão
E todos sabem ser ilusionistas

Vou-me embora para Santa Clara
Pois aqui sou ignoto
E lá sou iluminado

Vou-me embora para Santa Clara
Pois talvez queira preservar minha vida
E não prende-la a nada

Vou-me embora para Santa Clara
Pois nem em uma resma se explica
O que já está óbvio

Vou-me embora para Santa Clara
Pois lá existe um éden
E eu serei seu Adão

Vou-me embora para Santa Clara
Pois a casa já está pronta
E em cima da mata

Vou-me embora para Santa Clara
Pois extrapolou meu tempo aqui
E meu corpo pede isso incontestavelmente

Vou-me embora para Santa Clara
Vou mesmo, sem remorso
Sem volta, sem piedade

E lá ficarei
Até que a morte
Sorria para mim.

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